terça-feira, 24 de junho de 2008

Rodas, talento e sex appeal!

Em seu blog Assim Como Você, o jornalista Jairo Marques entrevista a modelo Tabata Contri, 27, cadeirante. A loira já foi capa e editorial de diversas revistas, dança sobre as quatro rodas da cadeira, é consultora em inclusão e técnica em medidas de cadeiras de rodas para lesado medular.

Tabata é ainda atriz e estuda interpretação em uma conceituada escola de São Paulo. A jovem entrou para o grupo dos cadeirantes há cerca de sete anos, devido a um acidente de carro em uma rodovia de São Paulo. Era a única que não usava cinto de segurança.

A moça fala sobre vaidade, a paixão pela dança e a representação dos deficientes em novelas. "Cada vez que alguém fica cadeirante numa novela, volta a andar milagrosamente. Isso é ridículo porque não é real", diz Tabata. "Daí a avó de um amigo que é tetraplégico fala que ele não anda porque é preguiçoso!"

Assim como você: Falando em novelas, deficientes só aparecem nesse tipo de programa como alguém abatido pela guerra, né? Triste, desolado, sofredor. Há exceções, mas me parece quase uma regra. O que falta para mudar isso?

Tabata: Putz, Jairo, nem me fale, cada vez que alguém fica cadeirante numa novela, volta a andar milagrosamente. Isso é ridículo porque não é real. Daí a avó de um amigo que é tetraplégico fala que ele não anda porque é preguiçoso!

Já imaginou, uma cena diferente? Um cara cadeirante, gato, estacionando o carro, sacando as rodas, montando a cadeira e encontrando a namorada? Ela senta no colo dele e ele tasca um beijo na boca dela!!! Lindo, né, ninguém ia ficar com dó desse cara! Mas aí a novela mostra o drama, a tiazinha fica chorando no sofá da sala vendo a novela e tudo que ela quer é que o cara volte a andar. E o autor por sua vez, faz o milagre acontecer! Isso é muito falso. A TV precisa de verdade! Quem sabe assim as pessoas parem de estranhar a gente nas ruas, né!

Outro dia eu tava lá na Liberdade (um bairro de Sampa cheio de japas) e veio um velhinho correndo atrás de mim, me mostrou um jornal e disse: “Olha fia, se você for nessa igreja vai se livrar desse carrinho aí!” Eu disse que eu gostava do meu “carrinho”! Poxa a cadeira de rodas não prende ninguém, pelo contrário ela liberta! Eu vou pra onde eu quero a hora que eu quero!


Assim como você: Você se destaca muito nas mídias, também, por chamar atenção com a beleza. Quando a gente é deficiente, então, a gente não deixa de pentear o cabelo, tomar banho, ir à academia?

Tabata: Olha, de pentear o cabelo não deixo, mas, confesso que não vou a academia faz um tempão! Hehehe Mas é lógico que gente deficiente faz tudo isso, será que tem gente que acha mesmo que não? Vaidade todo mundo tem independente de ser cego, surdo, cadeirante. Eu não sou o ápice da vaidade, mas faço as unhas, vou ao cabeleireiro. Às vezes, faço dieta, mesmo que não dê certo! Gosto de me produzir pra ir à balada, como toda mulher de vinte e poucos anos, ué!

Tenho algumas amigas que são cadeirantes e colocaram silicone, não sou uma delas, mas é só pra ilustrar que a gente também é vaidosa tá! Quando eu fazia natação o dono da academia teve que fazer uma rampa na entrada porque só tinha escada. A gente pode transformar o mundo sabia? É só sair à rua com sorriso no rosto e contar pras pessoas que a gente quer uma porta mais larga, um banheiro maior, tem que ir pelo amor e não pela dor!



Assim como você: A deficiência, de alguma forma, afetou sua feminilidade? Se sente por acaso menos atrativa para os outros e se acham menos paquerada que as mulheres “rebolativas”?

Tabata: Magiiiiina, sou tão paquerada quanto antes, só que quem chega junto não ta interessado só na minha bunda, até porque não dá pra ver!
Sabe que eu nunca perdi minha feminilidade, nunquinha, sempre me achei gostosa e tenho uma amiga que me zoa, ela fala “que gostosa o quê! Maior perna fina!”, eu me acho mesmo assim. Logo no começo da lesão li vários livros, sobre sexo tântrico, entre outros.



Assim como você: Também li que você tem momentos em que explode, parece sentir o impacto de sua vida ter mudado radicalmente ao agregar quatro rodas. É isso mesmo? Como você supera isso?

Tabata: Meu, eu não explodo porque sou cadeirante. Explodo por que explodo e pronto! Sou de carne e osso e sinto raiva, alegria, tristeza, tesão, medo, ansiedade como qualquer pessoa viva. Eu tô viva, graças a Deus, e não fico parada, não sou coitadinha e muito menos heroína, simplesmente não faço mais do que minha obrigação como ser humano, viver, trabalhar e ser feliz!



Assim como você: Quando vejo você dançando sinto que, realmente, a gente pode fazer tudo. Dançar é bom e você recomenda?



Tabata: Ai, Jairo, dançar é uma delícia!!! Esse fim de semana eu dancei horrores, fui a um show, viajei, e fui em festa junina!!! Eu também fazia academia de dança da Suzie Bianchi, é demais! Danço nos musicais da oficina, fiz teatro musical no Senac. E não precisa ser profissional, se sentir vontade dança e pronto.


reprodução Blog Jairo Marques

Nenhum comentário: